30 julho 2010

Garimpeiro do vento


Garimpeiro por excelência e vocação. Devastação de mim mesmo. Mundo inteiro a descobrir. Fui catando coisas, cores e figuras que julguei relevante nas minhas andanças debaixo desse céu. Aprendi a catar enquanto limpava, a assegurar enquanto lapidava, a selecionar enquanto classificava e a experimentar quando a luxuria me pedia.
 Eu já não tinha mais tantas escolhas e os laços que prendiam-me não eram tão fortes quando pensavam eles, os tolos que tentaram acorrentar-me. Eu queria ir mais longe. Não aceitaria aquelas palavras calado. Minha voz podia ser ouvida como gritos enternecidos.
Decidi parir-me livre e seguir sempre em frente. Fluido que corre pra não sei onde. Céu alaranjado, paredes de reboco, solo fértil que adubei. Canções de mar balançando-me feito barco embriagado e levando-me por onde for. Ares de festes sorrindo-me na ida. Vez ou outra pedras atiraram-me.
Hoje continuo a garimpar pequenos grãos de coisas minhas. Coração vaga-bundo que abraça-dor.  E amanhã quando sol me beijar, avanço às cegas. Voando.

Mazes

28 julho 2010

Das particularidades


Não vendo meus ideais. Suas filosofias prontas e seus conceitos comprovados em cartório não me parecem suficiente. Faço meu próprio conceito das coisas que acredito, prefiro assim. Fica mais natural e consciente ter minha própria visão de mundo. Leio livros, porque um dia pretendo escrever o meu. Até gosto dos CDs, mas preferia ter nascido na época do vinil. Tudo bem, já me disseram que tenho que me conformar com isso, to tentando.
Investigo os fatos, não me contento com pouco. Vou na frente, quase sempre desprezo guias. Perde-se pelo caminho faz parte e eu nunca gostei de fugir da queda. Se é pra quebrar minha face bonita, que ela se quebre. Tenho talento pra reconstruí-la em dois tempos. Não rego superstições, não preciso de datas comemorativas e idas semanais a shopping ou boates. Sinto-me festa onde chego e também gosto de chorar quando se é conveniente sorrir.
Nem sempre confie em minhas palavras, porém sempre as respeite, eu costumo respeitar o que os outros dizem. Eu falo muito, às vezes sem parar, preciso de alguém que me modere. Favor não confundir moderação com censura, falo o que quero, sempre. Não abro mão do meu direito a palavra. Muitos, tantos foram torturados e outros morreram para que nós tivéssemos direito a liberdade de expressão. E se me mandam falar baixo, eu grito no alto-falante.
Nunca tente impressionar-me com mentiras. Quando for me falar coisas pseudo’s intelecto’s, por favor, veja bem o que está falando, não tenho paciência pra ouvir informações erradas. Se informe antes de sair por aí citando Freud ou Machado de Assis.
Não gosto de ser imitado, não pretendo ser modelo a ser seguido. Também nem invente de me amar com urgência, tenho medo de amor apressado. Sou chatinho e tenho muitas particularidades e já desisti de me desfazer delas. Respeite-as ou então passa amanhã, ou depois de um mês, ou então erra o caminho quando pensar em me rever. Sou áspero às vezes, mas quase sempre minha doçura encanta até os corações de pedra. Pois é, aprenda a usar- me, eu costumo aprender como tratar as pessoas.
Dê-me o valor que mereço receber. Aproveite a oportunidade que é estar comigo, costumo não voltar a trás nas minhas decisões e se não gostou do que leu, escreve algo melhor.

Mazes

14 julho 2010

A gente vai colorindo a dor



A gente vai se esquecendo, vai mudando o foco, vai desaprendendo a lembrar, vai deixando de lado, vai se desprendendo, vai indo com as coisas, com o tempo, com a vida, com o vento frio, com a rotina...
A gente vai contando os passos, vai levando, vivendo como se não doesse, como se não importasse, como se não ferisse.
A gente vai disfarçando, como se não fosse visível, como se não ficasse fajuto, como se não estivesse na cara, como se fosse possível.
A gente vai se fechando, como se quem está fora não importasse mais, como se aqui dentro fosse mais seguro, como se ficar sozinho fosse o prêmio por nossa incapacidade de amar certo.
A gente vai colorindo a dor, disfarçando as ausências, chorando as partidas, esperando outra estação, outro inverno, outro trem, outro vôo.
A gente vai olhando os carros passando, a luz diminuindo, as faces despedaçadas e sem expressões, os verões esfriando, os sons se confundindo, o calçamento se desfazendo, a chuva caindo, o sinal fechado, as ruas chorando...
A gente vai falando coisas que machucam, coisas que deixam marcas, coisas que não importam, coisas desapercebidas...
A gente vai fugindo, como se não quisesse ficar, como se não fosse possível se reinventar, como se fazer as malas doesse menos que implorar por amor. 
A gente vai se sentindo sujo, vai virando lama, vai ouvindo xingamentos, vai levando tabefes, vai escondendo o rosto.
A gente vai cantando desesperadamente, como se assim resolvesse, como se assim tudo ficasse mais fácil, como se o mundo inteiro pudesse nos ouvir...
A gente vai sentindo saudade, vai revendo fotos, vai riscando poemas, vai lendo livros, relembrando promessas...
A gente vai se alimentando com sonhos, acreditando em ilusões, aprendendo a dar a mão, sentindo necessidade de um afago... Vai enfeitando a casa, limpando as estantes, abrindo as gavetas, escondendo o guarda-chuva, vai estrangulando a dor, vai dialogando com a solidão, vai pedindo licença a tristeza e vai sorrindo outra vez.

 

Mazes

12 julho 2010

É, você realmente não quer entrar...


Todos os dias colho as melhores flores, procuro em minhas gavetas imaginárias toalhas brancas pra enfeitar a mesa, cubro as almofadas com tecidos coloridos, lembrando das descrições que você fazia  na juventude ao imaginar como seria sua casa. 

Aquela bela casa lá no campo, uns cinco filhos, vinho, filmes, fotografias, desenhos, amigos e amores. Ah, e  música, muita música. Na vitrola ou no som portátio, no violão ou numa flauta doce. 

Remanso, recanto... Vitral, nuves, vilarejos e mar, nunca gaiola. Nós juramos não se deixar prender-se por amarras sujas e capitalistas. Tudo nos serviria, tudo e todos! Da cabeça aos pés seríamos experimentadores do mundo. Ou qualquer coisa que nos fizesse sentir vontade de tocar o infinito.

Fico passeando nos minutos enquanto invento idéias humanamente impossível de serem concretizadas, só pra ver se consigo, assim como quem não faz muito esforço, te ver sorrir pra mim outra vez. Brilho. Lume de estrelas desacordadas num céu de Hozana. Alturas de luz. Talvez seja só uma questão de luminosidade... 

Acho que perdemos o brilho e as palavras soltas que me dizes agora vivem a ferrir-me tanto que nem ouso, num salto rápido, desviar-me delas. Tuas rudes sílabas e orações gramaticais, tem cortado-me ao meio, duas partes da mesma dor. Matéria bruta que se despedaça em meio ao chão, ou melhor, em meio ao piso branco com desenhos idiano que  levamos meses pra encontrar. 


E isso de encontro é sempre tão raro e incomum...

E te encontrei... Num dia desses, numa hora dessas, vestindo certas roupas, numa certa biblioteca de uma certa escola. Seus cabelos negros enrolando o mundo num movimento circular e deslizante e  eu com minha cara tão clichê. Seu ar de menina serena e eu com pinta de revolucionário, Che Guevara de mim mesmo. 
Você mulher acrobata e eu menino sempre de pés no chão. Você ereta destribuindo gentileza e eu escondido atrás dos meus livros de poesia, Mario Quintana que o diga. E diga também porquê, no meio de tantos outros mais leves, tantos outros mais enfeitados, no meio da variedade de raça e charme, você, menina de sorriso agradável, escolheu logo a mim para dividir segredos inconfessáveis.

Te quis pra mim primeiro pela vivacidade de teus gestos. Tua maneira de caminhar com passos lentos, tão lentos que era impossível não querer se deixar te acompanhar. Encantei-me com teu jeito de me aceitar mesmo quando eu não fazia bom uso dos verbos que eu dizia ser desnecessário conjugar.  

Depois te acolhi em mim pela sua capacidade de ir a fundo na essência das coisas e de detalhar e explicar o meio pelo todo. 

Hoje, te digo ainda, que amo-te realmente em língua tupiniquim e abrasileirada, nas horas incertas e nos dias de sol a pino, ventos que vão do Norte e fazem a curva no Sul. Pedaço de mim mesmo te compõem em esquinas da liberdade. 

Te entrego todas as chavas da minha casa e tu ensiste em ficar apenas na varanda.

E te imploro sempre:

- Entra! Sinta-se à vontade. Te dou esse direito e dever.

(Pois sinto saudade de ti... Como a menina de gestos gentis e palavras amenas. Como aquela que aceitava qualquer convite que eu fizesse ou qualquer idéia maluca, como passar um final de tarde de domingo deitados no chão de Recife enquanto o sol ia descendo e se encondendo no mar. Ou até mesmo tomar uma água de coco de frente pra o mar e de costas pra o mundo em questão.)

Te sinto no vento frio ou no mormaço. Quero te saber! Quero me conhecer! Quero te entender!


Mazes