24 agosto 2012

Depois de agosto é sempre setembro


Agosto sempre será um mês estranho para os especialistas do tempo do mundo. Ontem ouvi vizinhos comentando que até mês passado tudo parecia mais tranquilo, mas foi o mês oito chegar e 2012 já brinca de querer se despedir. Sujeito estranho esse agosto. De lutas, de lutos, de frio profundo, de embaraço, de qualquer gosto, de gosto ruim... 

Agora são seis e pouca da manhã e o sol parece não querer nascer. Estou sozinho. Ou melhor, estou sozinho sentado num banco, porque dizer assim fica mais poético para frase que vem a seguir. Faz que quer chover no céu azul escuro quase negro de Recife.  Vim sem guarda chuva, deixei na cama quando acordei. 

As árvores se agitam com o forte vento frio, em contraste com os calmos e poucos passantes na rua, indo para suas obrigações, querendo não chegar. No chão as folhas amadurecidas dançam um balé em movimentos circulares. Talvez na tentativa de voltarem à terra de onde foram originadas, braços da mãe. Mas encontram apenas asfalto e poeira para descansarem. Não demora e as folhas serão varridas por algum auxiliar de serviços gerais da faculdade que custa caro. “Na cidade a natureza é meio morta...”. Apesar da dureza do cimento, pássaros ainda executam a sinfonia do assovio entre os galhos. 

Sinto os primeiros pingos se aproximarem e tocarem meu rosto, mas ignoro, porque os tantos livros lidos sobre zen budismo tinha que servir pra alguma coisa, afinal. Para o budismo, a dor não é uma realidade, é uma percepção. Segundo Buddha, nem mesmo a morte é real.

Vejo um menino em idade tenra carrega sua mochila pesada e ir calmo em busca do saber escolar. Eu, menino em idade adulta, me despeço da paisagem carregando também minha mochila pesada, mas vou apressado buscar meus sonhos de homem de vinte e poucos anos. Que não quer ficar pra titio. Que não quer ficar pra trás. Que não quer perder tempo. Que não quer endurecer.

O inevitável acontece e finalmente chove no coração da cidade grande. A água vai molhando praças, avenidas e faz acelerar o tempo, porque agora alguns passantes correm para se protegerem da chuva. Que incomoda, verdade, mas que também limpa, renova e nutre.

"Uma chuva nunca é o resultado de um céu carregado de nuvens escuras, é um acontecimento excepcional; assim como se chovesse ouro líquido, a chuva brilha, e se você está dentro dessa chuva (digo "dentro" porque "debaixo" é muito pouco para expressar o envolvimento), ela é morna, revigorante, gostosa. Você vive dentro dessa chuva amarela como os girassóis de Vang Gogh, e nem no mais rigoroso inverno você está triste. Você celebra."

Abraço meus braços para o dia que nasce, não tenho mais medo de sentir o gosto da vida. E é assim que me preparo para a chegada triunfal do mês seguinte. O bom de agosto, é que depois é sempre setembro.


Mazes.