29 dezembro 2011

Inclinação da alma e do coração: Amor


O amor que não está em quem, mas em como é feita essa sutil inclinação. O amor que é do mundo, o amor que é meu... Só quando amo, posso ser amado, porque o amor nasce em mim e toca o amor do outro. E só quando sou amado é que posso amar, porque o amor nasce quando eu percebo o amor do outro. E assim o amor se reconhece. Amor antes e amor depois.

Na paixão, percebo, existe pouco afeto, porque ela se entrega as alegrias eufóricas do tempo acelerado. Tudo é urgência. Das muitas que já tive, poucas me lembro o cheiro, mas a luz... A luz dos meus amores, ainda hoje recordo com precisão. Mas o meu coração não foge as regras, insiste nas paixões. E é como ligar um fio em uma tomada sem eletricidade. Há contato, mas não há ligação. Há o toque, mas não a ligação, nem a luz. 

O amor não está em nenhum das minhas palavras, em nenhum dos textos que eu insisto em escrever. O amor está dentro de mim e quer tocar o outro calmamente...E quer ser tocado também.

                        Mazes

24 dezembro 2011

E ninguém vê o menino...

       Sinceramente, não gosto do espírito do Natal e quem me conhece já sabe disso. Apesar de quase sempre acabar embarcando nele assim como todos fazem. Mesmo assim, acho que o exagero só tem graça e é bem vindo quando é pelo viés do amor. Mas isso de mandar mensagens compartilhadas pra vinte pessoas da sua lista de contatos no celular, orkut ou e-mail, não é excesso de amor. É falta de tempo, de interesse, particularidade e sobretudo é praticidade. 
        Também não acho que o nascimento de Jesus mereça tantas árvores enfeitadas, sinos, comidas, presentes e etc. Logo ele que a história mostra que era um homem tão simples. Todos os dias nascem crianças especiais no mundo inteiro. Crianças que com seu caráter, sua humildade, sua luta, podem dar em algum momento de suas vidas contribuições importantes ao mundo. 
      Acredito de verdade que Jesus foi um grande exemplo de homem na terra. E mesmo que ele não tenha sido o filho de Deus, mesmo que Deus não exista, como eu acredito que não existe (não da forma com a maioria), mesmo assim Jesus não deixa de representar para a humanidade um exemplo de semeador do amor, da humildade, da justiça... Assim como tantos outros, filhos de homens comuns, humanos: Gandhi, John Lennon, Martin Luter King, Chico Mendes e tantos outros... 
       A gente sabe que ninguém vai surgir a noite e nos dar aquilo que a gente tanto precisa e/ou quer. A imagem do Papai Noel no natal é o retrato fiel de nossa tendência a querer conquistar as coisas sem esforço. É a metáfora do consumo imediato. Mas a gente se engana achando que não é assim. Já está enraizado no inconsciente coletivo da humanidade que o natal é tempo de consumo desenfreado e disso quase ninguém consegue fugir.
       Meu filho provavelmente vai fantasiar sobre a existência do papel noel quando criança, mas desde muito cedo ele vai saber que o tal velhinho não faz parte da cultura do meu país. 
      Não só por suas vestes, que no calor do Brasil deixa qualquer velho estressado e sem saco, mas porque a maioria do povo do meu país rala o ano inteiro pra chegar no final do ano e poder comprar pelo menos uns três presentes para suas crianças, porque uma tal indústria do comércio decidiu que natal é tempo de presentear alguém, alguénS. Eu não vou desmerecer o trabalho que tenho para prover meu dinheiro dando créditos há um personagem fictício que traz presentes para as crianças no natal.
       No meu país, a maioria das pessoas rala o ano inteiro pra ter uma ceia decente de Natal e isso eu realmente valorizo. E ainda, no meu país, apesar de toda a riqueza que possuímos e de todo dinheiro que existe no mundo ser suficiente para matar a fome de todos, ainda terá famílias que mal terão o que comer nesse natal, quem dera um presente. 
    É maldade criar uma criança mostrando as várias pontas das coisas do mundo? É maldade não criar um filho na fantasia? O meu filho, pretendo, irá viver na poesia das coisas reais e imaginárias. Na poesia do real que pode ser transformado na fantasiar e vice e versa, mas ele não irá viver na alienação de que o natal é igual pra todo mundo. 'Não, o natal não é igual pra todo mundo, meu filho.'
       Maldade é ver uma criança chorando porque sua mãe não pode lhe dar o presente que a mesma tanto quer. O presente que diariamente a televisão diz que ela tem que possuir. E mais maldade ainda é saber que essa mesma criança vai esperar a noite que papai noel entre pelo telhado, já que no Brasil quase não tem casas com chaminé, e lhe traga o que ela tanto quer. Maldade é não ter como argumentar com essa criança, é não poder dizer a verdade: 'Meu filho, eu não tenho dinheiro.'
        Maldade é ver uma criança de rua cheirando cola no dia de natal em pleno comércio da cidade do interior, enquanto os passantes nas ruas correm apressados para poder comprar os presentes de última hora. E ninguém vê o menino. Eu vejo, mas não faço nada além de ver.
       O natal então devia ser tempo de voltar uma atenção mais cuidadosa para as crianças em geral e não só para aquela criança lá da bíblia. Devia ser um tempo de muito, muito trabalho e esforço. E não de festa. Trabalho e esforço para destruir os muros e barreiras do nosso peito e construir pontes de diálogo em nossas relações.
     Natal não devia ser um tempo de mensagens clichês, mas da ações clichês. Ou até mesmo aquelas ações que estão fora de moda, como a de parar para refletir. Quer algo mais sem graça em nosso tempo do que parar para refletir? Dizem um grande número de pessoas. Quer ainda algo mais sem sentido do que amar quem eu não conheço? Parece que a maioria de nós entendeu errado quando Jesus pregava o amor ao próximo. Amor ao próximo é amor ao outro, próximo ou distante. É amor ao mundo. 
       Mas hoje a noite a maioria de nós irá para suas casas, com suas famílias, suas árvores e suas comidas e as crianças das ruas, continuaram nas estradas desenhando mensagens com lápis de luz. Sem um abraço sincero, sem ceia de natal, sem presente, com uma roupa simples, esperando que papai noel apareça e mude seu destino. 

          Desculpem!

Mazes

18 dezembro 2011

Ninguém aqui sabe nada, mas devia saber

           A verdade é que a história não termina ali, como a gente sempre finge acreditar. Ela continua em cima do meu silêncio, dentro da tua boca. Ela grita nas palavras que nós não  dizemos. Ela continua e nem eu nem você nunca vai saber. Porque mesmo quando eu te digo que já disse tudo o que tinha pra dizer, falta sempre o resto que eu não consigo transformar em palavras.
          Talvez por medo de acrescentar algo irrelevante. Talvez por achar que as frases finais têm um efeito bem maior do que as iniciais e na verdade essa é a intenção. Talvez porque eu sei que se eu for até o final você vai fugir mais rápido do que o de costume e essa não é a intenção. Talvez por supor que você não mereça que eu me mostre inteiro, quando na verdade eu nunca sei se você faria isso por mim também. O nosso encontro é feito a partir de não saber. Ninguém aqui sabe nada, mas devia saber.
           A minha história não termina ali onde eu digo que tem um ponto final, mas você sempre se satisfaz com o que eu digo e é talvez por isso que eu não consigo continuar... Eu sou o homem que tem muito pra dar, que é bem maior do que você consegue perceber, mas mesmo assim eu te queria por perto, não é engraçado? Mesmo sabendo que com você nunca poderei ir até o final da história. E sou também aquele que você prefere conhecer apenas superficialmente, porque você aprendeu que pra sua segurança é bem melhor se mostrar apenas superficialmente.
          O problema não é o que sentimos um pelo outro,  é que ficar com você é aceitar essa sua natureza doce e ao mesmo tempo incompleta. É não saber até quando o seu fogo vai queimar. É olhar pra você e nunca, nunca entender o que teus olhos dizem. É sentir que eu estou caminhando para o abismo que é você e não conseguir recuar. Ficar com você é aceitar sem poder contestar que qualquer dia desses você irá sumir outra vez. Sem aviso, sem torpedo, sem e-mail, sem fumaça no céu. É aceitar te ter e ter perder a cada dia, e eu, definitivamente, não sei mais continuar fazendo isso... 
          Eu até poderia continuar a aceitar teu silêncio quando eu pensava que você não tinha nada a mais pra me dizer, mas agora é diferente, porque eu sei que você sempre me esconde algo. Agora eu sei que o teu ‘tudo bem’, esconde um coração que quer amar, que quer ficar coladinho... Agora eu sei que lá no fundo você já entendeu que paixão é uma procura inútil por si mesmo que nunca tem fim. E que amor, amor mesmo, é calmaria e não falta de ar. Só não consegui ainda descobri se sou eu o homem que você quer que esteja ao seu lado quando você conseguir concluir um pensamento uma vez na vida. 
          E eu, até nesse texto, não consigo te dizer tudo o que meu pensamento produz. Porque tenho medo de te assustar, de te ver ir longe e voltar a procurar amor, onde você sabe que não vai encontrar.  Isso só concretiza minha teoria de que essa nossa história dificilmente terá um final, seja ele feliz ou não. Talvez no dia em que inventarem um meio da gente adivinhar o pensamento um do outro e descobrir o que o outro quer. Ou quem sabe um dia nossos inconscientes dialogem e definam o que em consciência, não conseguimos definir. Por enquanto uma coisa é certa: Eu estou desistindo! 
Mazes

Tudo aquilo que você dizia

E na casa em que seu corpo pálido, leve e meu habitava, tudo era lindo e estanho. Era a verdade daqueles dias de outubro de um ano qualquer. Sorrindo você moldurava o meu corpo já naufragado de amor, suor e cansaço, me deixando em um transe suspenso que traduzia minha dependência de você para me satisfazer plenamente na hora do sexo. E na vitrola da sala o Carlos Dafé dizia tudo o que eu, anestesiado, não conseguia comunicar. Era somente aquelas noites e você do meu lado, me dizendo que amanhã a gente ia se perder e o tempo ia passar demasiadamente rápido. E que no outro dia, enquanto eu estivesse no banho, meu corpo gritaria por seu afago e ao invés de você, um outro alguém viria me consolar. 

Mazes.

16 dezembro 2011

'Um soluço e a vontade de ficar mais um instante...'

E agora posso dizer, sem medo de errar, que cinco meses respirando o que um Ateliê exala, pude apreender o que em três anos de faculdade eu ainda não tinha aprendido. Porque as teorias encolhem-se quando é preciso descer os degraus acadêmicos e sentar-se na grama verde lado a lado com o outro. Num circulo que faz a energia fluir e coletivizar a individuação. E o ciclo, descobri assustado, nunca tem uma linha de chegada.   

'Tudo é impermanência...' Diz o budismo. 'O mundo lá fora gira ao contrário...' Diz uma mulher psicótica, que ainda insiste em economizar sorrisos.    

Experimentei olhar de perto a 'loucura' que negamos, sufocamos... A loucura de nós mesmos. A loucura da sombra das nossas árvores: Azuis, verdes, amarelas, pretas. Sim, e por que não?    

Nesses cinco meses eu pude ver um pouco do que está do outro lado... E o que está do outro lado também é bonito. E é bonito porque tem uma luz sutil, discreta, abstrata e é preciso acuidade para dela poder se iluminar. É preciso não invadir! É bonito, porque segundo Freud, o inconsciente deles é um céu aberto. E só que está perto, pode desse céu desfrutar.   

E na mala eu trouxe uma delicada lembrança, que é delicada porque é a lembrança de um outro sobre mim. É a inscrição do sujeito em meu peito. Nesse caso, é a inscrição de uma mulher que precisou adoeceu para poder viver num espaço onde ela é respeitada e Humanizada, com H maiúsculo. Uma mulher que traz marcas e sombras de seu passado turvo, mas que caminha, a passos lentos, para a luz. E hoje, nas ações e nas árvores dos outros, ela consegue tatear vida, onde antes, tudo era dor.  


Eu abracei uma idéia. Eu abracei minha profissão. 
                                                                                                                    Mazes