29 abril 2012

Como se ninguém estivesse a olhar

Tinha doçura na voz e um sorriso de perversão. Ele se encantou com aquela mistura de poesia nítida com sacanagem discreta. Trazia no olhar o brilho característico daquelas pessoas que se esforçam para parecerem segura de si, quando na verdade não são. Depois de algumas semanas de encontros, baixou a guarda e se mostrou nua, como se ninguém estivesse a olhar. E só não o fez antes, porque não sabia que um cara como ele iria gostar dela do jeito que ela era.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          Mazes.

17 abril 2012

Na pressa e na calma de se conhecerem

Dois desajeitados na arte de se permitir, isso é o que eles eram. Um com sua natureza misteriosa, chegando a ser gélida. O outro com sua carência de leveza, que o impedia de sair do chão. Ainda assim esboçaram em meio aos tropeços uma aproximação na noite, mergulhada na pressa e na calma de se conhecerem. Se entregaram ao sabor dos corpos que se procuravam nas horas iniciais da noite, tateando com as mãos o desejo ansioso de provar o gosto e saber se o gosto era bom. Mas não ficaram sabendo. E como era de se esperar de suas naturezas compostas por silêncios, eles sumiram, trocando a naturalidade do momento pela neutralidade oca do dia seguinte. Cada um voltou pra sua zona confortável. Exaustos do consumo desenfreado e sem amanhã.

                                                                                                                                                   Mazes.