20 junho 2011

Não sou um ser humano pronto, estou me construindo...


A cada passo, a cada choro, a cada silêncio dito. A cada gole me bebo um pouco mais. Na raiva que sinto, no amor que eu não encontro, na vida que tento levar. E minha sede sempiterna é o que me faz movimentar o que me sobra de sonhos. Tá lento? Estou construindo minhas paredes. Edifícios, dirão os mais otimistas. Casa de taipa, dirão meus inimigos. Uma quitinete, diria minha solidão. Um iceberg, diria eu. A cada esquina me vejo mais longe. Tá perto? E mesmo morto continuarei a ser, porque longe de mim tudo ainda sou eu. Doce, amargo, todas as cores. Nos desejos que me fogem o controle, na cama que eu não amanheço, nas teorias que eu não entendo. É o mesmo de mim, mesmo não sabendo. A cada promessa, a cada giro, a cada alegria, eu estou me enfeitando. Tá bonito? Nada é amanhã, tudo se cristaliza hoje e hoje mesmo derrete. Você me chega e descubro que o Sul é longe demais para nos aproximar, eu estou me despedindo.  Meus disfarces, meus retratos, meu mundo imaginário. Pura ilusão acreditar que o processo terá fim.  Eu estou me construindo...

                                                                                                           Mazes

11 junho 2011

À você, que nunca vai saber...


Você que tem os olhos apertadinhos, que respira sem pressa e que tem o sotaque mais doce de toda aquela faculdade. Você que mora na capital, que frequenta bons restaurantes, que tem bons contatos, que gosta de cinema, música clássica e rock ‘n’ roll. E eu que fico do lado de cá, enquanto você passa com seu ar de autoridade, deixando no ar a dúvida se está fitando a mim. Eu que fico só te olhando de longe - de boca aberta - enquanto você caminha flutuando com um charme todo francês, me transportando em dois tempos para alguma cena de filme dos anos 50.
Você que me cumprimenta com uma timidez tão acentuada que não combina com alguém que já rodou o mundo. Você que deve receber pelo menos umas dez ligações por dia, vários convites para jantar... Que não deve passar mais de 5 minutos se arrumando, porque qualquer roupa em você parecer sempre cair bem. Porque qualquer coisa em você nunca será qualquer coisa. E eu que ainda não consigo andar sem tropeçar em meus próprios passos, que nunca sei onde colocar as mãos enquanto falo, que não sei fazer bom uso do meu papo de garoto pernambucano.
Você que tem olhos verde-esperança... E eu que fico babando quando te vejo pisar em solo fértil, no mesmo solo em que eu também estou a pisar. Eu que fico só imaginando o que tem por dentro daquela camisa azul marinho, que fico sorrindo sozinho enquanto penso qual será o grau de maciez da tua pele tímida.
Você que nem sabe que meu ‘boa noite’ esconde tanta admiração e terceiras intenções. Que nem ao menos sonha que esse meu sorriso de canto de boca, de bom moço, quer na verdade te roubar pra mim, te chamar pra passear, te convidar pra filosofar lá em casa. Eu que tenho prova segunda e nem devia estar gastando meu tempo pensando nessas coisas.
Eu que nem ao menos sei teu nome completo ou o endereço da tua residência. Você que não sabe do meu apreço e nunca vai saber.
Mazes