12 julho 2010

É, você realmente não quer entrar...


Todos os dias colho as melhores flores, procuro em minhas gavetas imaginárias toalhas brancas pra enfeitar a mesa, cubro as almofadas com tecidos coloridos, lembrando das descrições que você fazia  na juventude ao imaginar como seria sua casa. 

Aquela bela casa lá no campo, uns cinco filhos, vinho, filmes, fotografias, desenhos, amigos e amores. Ah, e  música, muita música. Na vitrola ou no som portátio, no violão ou numa flauta doce. 

Remanso, recanto... Vitral, nuves, vilarejos e mar, nunca gaiola. Nós juramos não se deixar prender-se por amarras sujas e capitalistas. Tudo nos serviria, tudo e todos! Da cabeça aos pés seríamos experimentadores do mundo. Ou qualquer coisa que nos fizesse sentir vontade de tocar o infinito.

Fico passeando nos minutos enquanto invento idéias humanamente impossível de serem concretizadas, só pra ver se consigo, assim como quem não faz muito esforço, te ver sorrir pra mim outra vez. Brilho. Lume de estrelas desacordadas num céu de Hozana. Alturas de luz. Talvez seja só uma questão de luminosidade... 

Acho que perdemos o brilho e as palavras soltas que me dizes agora vivem a ferrir-me tanto que nem ouso, num salto rápido, desviar-me delas. Tuas rudes sílabas e orações gramaticais, tem cortado-me ao meio, duas partes da mesma dor. Matéria bruta que se despedaça em meio ao chão, ou melhor, em meio ao piso branco com desenhos idiano que  levamos meses pra encontrar. 


E isso de encontro é sempre tão raro e incomum...

E te encontrei... Num dia desses, numa hora dessas, vestindo certas roupas, numa certa biblioteca de uma certa escola. Seus cabelos negros enrolando o mundo num movimento circular e deslizante e  eu com minha cara tão clichê. Seu ar de menina serena e eu com pinta de revolucionário, Che Guevara de mim mesmo. 
Você mulher acrobata e eu menino sempre de pés no chão. Você ereta destribuindo gentileza e eu escondido atrás dos meus livros de poesia, Mario Quintana que o diga. E diga também porquê, no meio de tantos outros mais leves, tantos outros mais enfeitados, no meio da variedade de raça e charme, você, menina de sorriso agradável, escolheu logo a mim para dividir segredos inconfessáveis.

Te quis pra mim primeiro pela vivacidade de teus gestos. Tua maneira de caminhar com passos lentos, tão lentos que era impossível não querer se deixar te acompanhar. Encantei-me com teu jeito de me aceitar mesmo quando eu não fazia bom uso dos verbos que eu dizia ser desnecessário conjugar.  

Depois te acolhi em mim pela sua capacidade de ir a fundo na essência das coisas e de detalhar e explicar o meio pelo todo. 

Hoje, te digo ainda, que amo-te realmente em língua tupiniquim e abrasileirada, nas horas incertas e nos dias de sol a pino, ventos que vão do Norte e fazem a curva no Sul. Pedaço de mim mesmo te compõem em esquinas da liberdade. 

Te entrego todas as chavas da minha casa e tu ensiste em ficar apenas na varanda.

E te imploro sempre:

- Entra! Sinta-se à vontade. Te dou esse direito e dever.

(Pois sinto saudade de ti... Como a menina de gestos gentis e palavras amenas. Como aquela que aceitava qualquer convite que eu fizesse ou qualquer idéia maluca, como passar um final de tarde de domingo deitados no chão de Recife enquanto o sol ia descendo e se encondendo no mar. Ou até mesmo tomar uma água de coco de frente pra o mar e de costas pra o mundo em questão.)

Te sinto no vento frio ou no mormaço. Quero te saber! Quero me conhecer! Quero te entender!


Mazes

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