11 junho 2011

À você, que nunca vai saber...


Você que tem os olhos apertadinhos, que respira sem pressa e que tem o sotaque mais doce de toda aquela faculdade. Você que mora na capital, que frequenta bons restaurantes, que tem bons contatos, que gosta de cinema, música clássica e rock ‘n’ roll. E eu que fico do lado de cá, enquanto você passa com seu ar de autoridade, deixando no ar a dúvida se está fitando a mim. Eu que fico só te olhando de longe - de boca aberta - enquanto você caminha flutuando com um charme todo francês, me transportando em dois tempos para alguma cena de filme dos anos 50.
Você que me cumprimenta com uma timidez tão acentuada que não combina com alguém que já rodou o mundo. Você que deve receber pelo menos umas dez ligações por dia, vários convites para jantar... Que não deve passar mais de 5 minutos se arrumando, porque qualquer roupa em você parecer sempre cair bem. Porque qualquer coisa em você nunca será qualquer coisa. E eu que ainda não consigo andar sem tropeçar em meus próprios passos, que nunca sei onde colocar as mãos enquanto falo, que não sei fazer bom uso do meu papo de garoto pernambucano.
Você que tem olhos verde-esperança... E eu que fico babando quando te vejo pisar em solo fértil, no mesmo solo em que eu também estou a pisar. Eu que fico só imaginando o que tem por dentro daquela camisa azul marinho, que fico sorrindo sozinho enquanto penso qual será o grau de maciez da tua pele tímida.
Você que nem sabe que meu ‘boa noite’ esconde tanta admiração e terceiras intenções. Que nem ao menos sonha que esse meu sorriso de canto de boca, de bom moço, quer na verdade te roubar pra mim, te chamar pra passear, te convidar pra filosofar lá em casa. Eu que tenho prova segunda e nem devia estar gastando meu tempo pensando nessas coisas.
Eu que nem ao menos sei teu nome completo ou o endereço da tua residência. Você que não sabe do meu apreço e nunca vai saber.
Mazes

Um comentário:

Márcia disse...

Uau Mazes, delirei lendo este, e me vi também... quanta admiração sentimos e guardamos sem se quer alimentarmos a possibilidade de revelarmos ao dono(a) de tamanha beleza, pelo menos segundo os nossos olhos, aí eu penso no impacto que poderíamos causar, e por algum motivo não fazemos, escolhendo assim viver no anonimato... até quando??? Abraços!