15 julho 2009

Penso em voz baixa, para que o perigo não me escute
O tempo que me foi dado está há um passo de se esgotar e eu ainda não recolhi todos os cacos que espalhei no meu céu. Agora até minhas miniaturas me atormentam pedindo que eu lhes dê seus respectivos valores. Confesso: não sou bom de organização, meu talento é outro. Prefiro causar terremotos. Embora, muitos digam que minha sala de trabalho sempre foi uma das mais impecáveis em termo de organização. Mas no campo complexo que é minha vida, nem ao menos consigo separar meus amores pelo tom da voz. Alguém me diz hoje que a violência vem crescendo demasiadamente. E pude comprovar isso na pele. Quase morro de susto hoje à noite. Resolvi visitar uma amiga que morar algumas quadras da minha casa e decidi ir caminhando até lá. Arrumei-me inteiramente, quase pus beca, só pra sentir o sabor e cheiro das ruas nos dias de inverno e frio profundo. Na metade do cominho tenho a sensação de estar sendo seguido por uma sombra que me deixa intrigado. Sem muita paciência e sem coragem olho para trás e encaro aquele rosto aparentemente desconhecido. Aparentemente. [risos]. Descubro que o possível assaltante na verdade é um conhecido meu que me olha e diz: ainda bem que não é só eu que ando assim, às pressas! [caímos no riso, eu e ele.] A cidade anda violenta, eu digo. Ele concorda e sorrir. “Eu sei, todo ser humano pode ser um anjo!” Encontrei uma companhia, eu pensei. Na verdade não é preciso muita filosofia ou convocar uma bancada de especialistas e doutores para entender como nossas vidas estão mudadas. Vivemos sim a sombra do medo e do espanto. Tudo se move as pressas. A violência explode nos lugares mais calmos e acolhedores. Não falo só do risco de perder algo material, mas me dói também a sensação do medo. Andar nas ruas sempre com olhos de sentinela. Não dá mais pra olhar para o nosso percurso. Estamos sempre pensando o que pode nos acontecer na próxima esquina. Será que chegaremos ao próximo poste de luz com vida? Complicada essa vida onde a correria dos nossos pensamentos não tira um instante de folga, não passeia pelo que é belo na cidade, nem nas coisas simples da vida. Tudo é digital e custa caro. Segurança está pela morte. Terei que blindar meu barraco? Penso eu em voz baixa, para que o perigo não me escute. Estou ausente da paz que sempre almejei. Esperava um pouco mais da vida de adulto. Eu quero ter barba! Eu dizia em casa pra minha mãe. Quando eu fizer 18 anos vou ser livre... Fazer o que eu quiser. Liberdade atrás das grades do portão da minha casa? Fica difícil, não é? Preciso me concentrar! Ainda me resta milésimo de segundos, tenho que aproveitá-los e juntar minha coisinha e tomar uma difícil decisão. Preferia mesmo não ter que decidir. Tô com medo das conclusões! Socorro! Alguém me ajude! “Quero caminhar descalço e escrever no chão!” Josimar Souza-Mazes, o pensador

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