03 março 2009

Ó, Pai! Não deixes que façam de mim o que da pedra tu fizestes e que a fria luz da razão não cale o azul da aura que me vestes. Dá-me leveza nas mãos. Faze de mim um nobre domador, laçando acordes e versos dispersos no tempo, pro templo do amor. Que se eu tiver que ficar nu hei de envolver-me em pura poesia e dela farei minha casa, minha asa, loucura de cada dia. Dá-me o silêncio da noite pra ouvir o sapo namorando a lua. Dá-me direito ao açoite, ao ócio, ao cio, á vadiagem pela rua. Deixa-me perder a hora pra ter tempo de encontrar a rima. Ver o mundo de dentro pra fora e a beleza que aflora de baixo pra cima. Ó meu Pai, dá-me o direito de dizer coisas sem sentido. De não ter que ser perfeito, pretérito, sujeito, artigo definido. De me apaixonar todo dia. De ser mais jovem que meu filho e ir aprendendo com ele a magia de nunca perder o brilho. Virar os dados do destino, de me contradizer, de não ter meta. Me reinventar, ser meu próprio Deus. Viver menino, morrer poeta.
Alma Nua-Vander Lee

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