30 julho 2011

O amor que eu pouco conheço



Pela primeira vez na vida, que já dura vinte e poucos anos, resolvi tomar uma cerveja sozinho num bar. Lugar escolhido: Bar Margarida. Situado em algum espaço geográfico do grande Recife. O curioso é que o tal bar nem flor tinha, muito menos música ao longe, como é comum aos bares recifences. (Passantes nas ruas, mesas vazias, fotos espalhadas na parede e eu lá).
Pensando que talvez o amor seja colocar a solidão no bolso e desocupar as mãos para melhor abraçar a quem se quer. É espremer o pano molhado e estender no varal para que os raios do sol umedeçam o tecido encharcado. Amar é esconder a sujeira, jogar as impurezas para debaixo do tapete e receber visita. É tomar um copo de cerveja aos poucos para não embebedar-se demasiadamente rápido, típico das paixonites avassaladoras, que terminam quase sempre pela falta de delicadeza.
É talvez ver os carros bonitos passando e não querer ir com eles, porque a todo momento surgem novos carros bonitos e viver de coleção não faz lá muito sentido para um corpo que só precisa de amor. Porque amor, caros desacreditados, é talvez procurar abrigo em dias de chuva e ouvir Miles Davis na vitrola e ter a certeza de que tudo o que você precisa está em casa bem guardado. E toda dor é nada, porque existe a certeza do amor, a certeza de que alguém vai te preparar uma noite de carícias delicadas, sem te cobrar um corpo escultural ou um desempenho acrobático na cama. Porque a solidão em certos momentos pode até ser boa companheira, mas quem realmente deseja levá-la ao altar e casar-se com ela?
Porque amor, amor mesmo, é talvez ir aprendendo juntos como se faz. É semear as alegrias mansas mesmo quando a maior tristeza vem. É não machucar. É ao menos ser leal quando não for possível ser fiel. É entender sem precisar de muitas explicações. É assumir nossa imperfeição e entender que a pessoa por quem se espera uma vida inteira também não pode ser perfeita. Porque amar é colocar mais um prato na mesa. É cobrir de carinho quem te diz que não sabe amar direito. Porque amar direito é na verdade não saber amar.
Porque o amor que eu pouco conheço, é talvez acender um cigarro com fósforo ao invés de um isqueiro, porque amar é correr o risco de ter que tentar várias vezes até finalmente acender um palito que dure e acenda a chama. E que bom seria se manter essa chama acesa dependesse apenas de um dos lados, mas não dá, porque o amor na prática é uma relação bilateral. Duas partes que estão juntas pelo único motivo de querer estar. É o grande laço, um passo pra uma armadilha do Djavam. É o estar-se preso por vontade do Camões. É o mais que isso da Ana Carolina. É o meio ermo do Lourenço Baeta.
Porque o amor é tudo o que negamos e procuramos, tudo ao mesmo tempo e sem tempo exato. É todo nosso clichê brilhando nas noites escuras. É toda nossa solidão se espalhando nas festas da cidade. É toda mossa farsa. Todo nosso discurso moderno. Toda nossa fé reunida numa esperança de poder ser olhado com acuidade por alguém especial. Porque no fundo, bem lá no fundo, quem não já quis ou quer ouvir ou fazer o pedido da foto acima? E quem não aspira por um final feliz com quem se ama?
O amor, meus amigos, é tudo, menos tirar a solidão do bolso e beber sempre sozinho num bar.
Mazes

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