17 fevereiro 2010

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E a partir de agora
O meu problema não é a quarta-feira de cinzas, a falta de dinheiro, a falta da tinta azul que tanto quero pra pintar o quarto, a falta de emprego, a falta de paciência com minha família e com todas as pessoas desinteressantes que existem no mundo e insistem se aproximar de mim, muito menos com os livros que preciso, mas não consigo comprar. O meu problema, admito, é medo. Diagnóstico preciso esse meu. Justo eu que sempre semeie o vento, que sempre levantei o estandarte da entrega e do amor, estou com medo de amar ou de me apaixonar outra vez. Minha auto-defesa está agindo com voracidade me dizendo: 'Você ainda tem forçar pra insistir outra vez, Mazes? Não basta tudo o que já te aconteceu?'
É aí que bate aquele medo de me permitir, sabe? Aquele medo de correr riscos, de acreditar outra vez como sempre insisto em fazer, medo de machucar, medo de ser machucado... Medo de agora em diante amar menos só pra não correr o risco de sofrer e estou com mais medo ainda porque eu já nem sei se isso é certo ou errado. Porque agora essa resposta já não tem tanta importância. É meu jeito de sentir que está bloqueado e agora eu não tenho poder sobre ele, na verdade nunca tive. E se meu coração sempre foi capaz de amar loucamente é direito dele agora só querer amar pela metade ou até mesmo não amar ninguém. Eu aceito a condição, não vou reclamar. Agora é meu coração quem manda em mim, como sempre foi, só que agora ele já não se entrega mais e acho isso tudo uma pena, pois eu queria continuar a amar como sempre amei até porque era a maneira que eu esperava que alguém um dia me amasse.
Bom, parece que esse meu jeito de amar não era mesmo o modelo mais adequado. A quem pretende por mim se apaixonar eu prefiro avisar com antecedência: Eu não perdi minha capacidade de empatia. Continuo a nutrir um respeito profundo pelos sentimentos alheios. Esse respeito eu sei que devo a todas as pessoas a quem já eu magoei, mas principalmente as que me magoaram, pois eu desisti da idéia de ser igual a elas e fazer outros sofrerem antes mesmo de conhecer minha primeira vítima, melhor que seja assim. Eu prefiro ser lembrado com alguém doce e sincero. É, e também cafona e piegas ...
E a você que chegar em minha vida depois de todas as minhas decepções, só tenho que pedir desculpas por não ser mais um homem completo e falar sempre com esse eterno ar de nostalgia. Preciso me desculpar por ouvir insistentemente o Sérgio Sampaio e cantar Quarto Paredes sempre em voz alta. Também devo pedir desculpas antecipadas, pois decidi que não vou mandar mensagens sinceras e que vou ser mais blasé ao invés de mostrar o entusiasmo normal. Decidi que não vou ligar nos meus minutos de solidão antes de dormir nem vou perder meu sono decorando suas músicas preferidas, não vou dizer que senti saudades, que te acho tão... tão... Não vou te dizer o que realmente penso, não vou te fazer nenhuma surpresa e nem vou pensar que você pode ser minha alma gêmea.
Decidi que vou deixar você casar com um daqueles mauricinhos de balada, aqueles arrogantes que vivem a esbanjar um vocabulário bruto e hipócrita que herdaram dos pais, aqueles que se escondem por trás das roupas de grifes e dizem ler Paulo Coelho vez enquando para não mostrar quão fúteis e estúpidos são sua existências pós-modernas. Vou deixar você pedir penico ao se perceber ao lado de um cara que prefere exibir na praia seus músculos comprados em farmácia a assistir a um bom filme de Almodóvar. Decidi admitir que talvez eu nem queira alguém pra bagunçar meu dia-a-dia, minhas confusões, meus horários, meu calendário, meus estudos, meus amigos, minhas festas, minhas opiniões e o meu cabelo encaracolado. E a partir de agora, inevitavelmente, vai ser assim. Só porque você chegou tarde demais. Cansei de prostituir minha dignidade!
Mazes

07 fevereiro 2010

O dia em que a esperança morreu ao meu lado



Hoje à noite na sala de aula da faculdade a esperança morreu. É, eu sei que soa algo hostil e frio dizer que a esperança morreu assim sem aviso prévio, mas não me levem a mal, também não me levem a bem, pois foi exatamente isso o que aconteceu e estejam certos: eu não estou aumentando o conto. O ventilador girando em alta velocidade enquanto o silêncio completava os espaços vazios. Ninguém falava nada, acho até que evitavam ou controlavam suas respirações. Havia mesmo alguma coisa a se falar? Todos se entreolhavam desajeitados e fingiam não perceber a esperança morta no chão a 5 passos do quadro branco. Irônico e interessante, em plena aula de Psicologia Social, onde eram apresentados a pacifistas de destaque mundial como Mahatma Gandh, Chico Mendes e o Dalai Lama, morre uma esperança verde (não seria tão bela se fosse de outra cor) no meio da sala de aula.
Fevereiro chegou anunciando o carnaval. Nas ruas e avenidas começam a maratona de prévias carnavalescas até a chegada dos 5 grandes dias de alegrias, onde todos, foliões ou não foliões, estamos condenados a quase obrigação de ser feliz e viver intensamente até a quarta-feira de cinzas. Nas ladeiras da cidade as orquestras a cantar Turbilhão: ‘A nossa vida é um carnaval, a gente brinca escondendo a dor (...)’ Fico me perguntando se é mesmo certo eu entrar na dança após presenciar a morte definitiva da esperança, uma vez que a mesma, agonizou por instantes antes de morrer e me fitava com aquele olhar de tela.
 Não tinha idéia do alcance que tinha o impulso de vida de uma esperança, o quando elas lutam para continuarem vivas. Na minha infância era comum ouvir dizer que matar esperanças dava maior azar, mas e quando inesperadamente surge algo semelhante a uma pequena folha verde e se atira em direção a um ventilador de teto, suicídio? Descuido? Displicência? Estamos os 23 alunos condenados ao azar? E o restante do pessoal da sala que estavam a passear pelos corredores, também terão suas penas a cumprir?
O professor me chama a atenção e pergunta o que tanto escrevo no meu caderno novo e por que estou usando o lápis ao invés da caneta. A sala toda rir do meu constrangimento, explico que não estou escrevendo e sim desenhando. Acredito que eles não ficaram satisfeitos com minha resposta, mas não, eu não sou besta pra admitir que estou escrevendo pra registrar o dia em que uma esperança morreu ao meu lado quase em pleno carnaval. O sinal toca, organizo minha mochila cuja cor não defino, acelero meus passos para chegar rápido em casa e tomar um bom banho pra limpar a alma. Agora depois do banho tomado e com meu corpo de 20 anos bem cheirozinho me encontro sorrindo para o espelho e pensando: Ai ai, minha percepção. Ai ai, meu dom de ser escritor!
Mazes