07 fevereiro 2010

O dia em que a esperança morreu ao meu lado



Hoje à noite na sala de aula da faculdade a esperança morreu. É, eu sei que soa algo hostil e frio dizer que a esperança morreu assim sem aviso prévio, mas não me levem a mal, também não me levem a bem, pois foi exatamente isso o que aconteceu e estejam certos: eu não estou aumentando o conto. O ventilador girando em alta velocidade enquanto o silêncio completava os espaços vazios. Ninguém falava nada, acho até que evitavam ou controlavam suas respirações. Havia mesmo alguma coisa a se falar? Todos se entreolhavam desajeitados e fingiam não perceber a esperança morta no chão a 5 passos do quadro branco. Irônico e interessante, em plena aula de Psicologia Social, onde eram apresentados a pacifistas de destaque mundial como Mahatma Gandh, Chico Mendes e o Dalai Lama, morre uma esperança verde (não seria tão bela se fosse de outra cor) no meio da sala de aula.
Fevereiro chegou anunciando o carnaval. Nas ruas e avenidas começam a maratona de prévias carnavalescas até a chegada dos 5 grandes dias de alegrias, onde todos, foliões ou não foliões, estamos condenados a quase obrigação de ser feliz e viver intensamente até a quarta-feira de cinzas. Nas ladeiras da cidade as orquestras a cantar Turbilhão: ‘A nossa vida é um carnaval, a gente brinca escondendo a dor (...)’ Fico me perguntando se é mesmo certo eu entrar na dança após presenciar a morte definitiva da esperança, uma vez que a mesma, agonizou por instantes antes de morrer e me fitava com aquele olhar de tela.
 Não tinha idéia do alcance que tinha o impulso de vida de uma esperança, o quando elas lutam para continuarem vivas. Na minha infância era comum ouvir dizer que matar esperanças dava maior azar, mas e quando inesperadamente surge algo semelhante a uma pequena folha verde e se atira em direção a um ventilador de teto, suicídio? Descuido? Displicência? Estamos os 23 alunos condenados ao azar? E o restante do pessoal da sala que estavam a passear pelos corredores, também terão suas penas a cumprir?
O professor me chama a atenção e pergunta o que tanto escrevo no meu caderno novo e por que estou usando o lápis ao invés da caneta. A sala toda rir do meu constrangimento, explico que não estou escrevendo e sim desenhando. Acredito que eles não ficaram satisfeitos com minha resposta, mas não, eu não sou besta pra admitir que estou escrevendo pra registrar o dia em que uma esperança morreu ao meu lado quase em pleno carnaval. O sinal toca, organizo minha mochila cuja cor não defino, acelero meus passos para chegar rápido em casa e tomar um bom banho pra limpar a alma. Agora depois do banho tomado e com meu corpo de 20 anos bem cheirozinho me encontro sorrindo para o espelho e pensando: Ai ai, minha percepção. Ai ai, meu dom de ser escritor!
Mazes


Nenhum comentário: