26 março 2010

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O gelo que eu não consigo derreter
Um congestionamento em meu peito, um nó na garganta que as poucos se transforma em versos e prosas desimportantes. Tudo é dor. Tudo sobra. Tudo desorienta.  Só mesmo o caos de nossa humanidade desajeitada é que meus olhos conseguem ver. Por onde passo há sempre os mendigos que eu não vou ajudar, as crianças com quem eu não vou brincar, o lixo que eu não vou recolher. Na correria da cidade há sempre os cartazes que eu vou ignorar, as árvores que eu não vou abraçar, o sorriso que eu não vou receber, o animal que eu não vou reparar, a injustiça que eu não vou defender, o carinho que eu não sei retribuir. Por onde meus pés caminham há sempre as certezas que eu nunca vou ter, a sabedoria que eu não sei ensinar, os malabarismos que eu não sei fazer, a fome que eu não sei como alimentar, o amigo que eu não vou reconhecer... Aqui dentro onde só faz frio, há sempre o gelo que eu não consigo derreter, o abrigo que eu não sei encontrar e o amor que eu ainda não aprendi a merecer.
Mazes

2 comentários:

Artur Araújo disse...

Como já te falei, me lembrou um sentimento que eu tinha quando eu era pequeno e minha mãe saia pra trabalhar. Muito bom.

Elmo da Vinci Zaratustra disse...

"...Aqui dentro onde só faz frio, há sempre o gelo que eu não consigo derreter, o abrigo que eu não sei encontrar e o amor que eu ainda não aprendi a merecer."
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O que falar?
Simplesmente um entorpecimento da alma.Parabens meu velho!