Talvez a única vantagem de não pagar com a mesma moeda, é que você está sempre com a consciência tranqüila. Lembro de ter lido em um livro na adolescência que no final de um poema o Fernando Pessoa dizia assim:" Aos que me jogaram pedras, o meu “muito obrigado”. Foi com elas que construí meu castelo."
Passei anos mal dizendo o poeta por produzir essa célebre frase de efeito. E como são clichês as frases de efeito... Mas acho que a vida já deu voltas o suficientes pra eu entender verdadeiramente o que o poeta quis dizer com essa máxima. O personagem do poema poderia atirar de volta com muito mais força as pedras que recebeu. Fazer o outro sentir a dor que ele sentiu e sangrar e gritar... Mas não, com as pedras, a Pessoa do Fernando construiu um castelo. Não é lindo isso?
Lembro de mim, que também sou artesão de minha vida... Quantas vezes, diante da fragmentação de mim mesmo, juntei os meus cacos e me refiz a duras penas, com a própria dor que eu possuía... Ainda frágil, sangrando, mas erguido. Não foi com a dor do outro que eu construí minha arquitetura.
Não, não é das alegrias que se desperta a força. A força vem mesmo é do suar, do tapa na cara, do não que eu recebi quando precisava tanto ouvir um sim. A força vem sofrida, tão sofrida que lateja apressadamente.
Esse ano um amigo me deu de presente um livro do Rubens Alves, o Psicanalista mais humanista que eu conheço. Nesse livro, o velhinho sábio (leia-se Rubens Alves) diz que a ostra feliz não faz pérola. “São os que sofrem que produzem a beleza para parar de sofrer...” E hoje, depois de tonto com as voltas que o mundo costuma dar, entendo que um homem vira homem de verdade quando aprende a chorar sem cobrir o rosto.
Mazes
Um comentário:
certos estamos nós em não devolver tais pedras, dói, mas é assim que encontramos caminhos para uma estrada magnifica !
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