12 setembro 2010

Quando a luz me falta


Não posso descuidar um minuto que esse outro – que parece tanto comigo e que no fundo sou eu mesmo – insiste em querer criar asas e voar por onde a vista não alcança. Se eu viro um segundo pra algum lado, esse outro já se acha no direito de fugir e fazer arruaça sem a menor responsabilidade. Foge de mim esse que sou e esquece que está de quarentena curando as dores que o tempo disse que iria curar. O amarro em meu passo e tenho um trabalho duro para arrastá-lo por onde eu for, porque sozinho esse pobre coração de asas não sabe bem por onde ir e chega quase sempre em lugares transitórios, fazendo besteiras por onde passa. Rodopia em um céu alaranjado esse que é filho do vento. Gosta de uma confusão esse tal que me voa – passa na minha frente, desvia meu caminho e me deixa chupando o dedo enquanto ele sai em busca de aventura, só que esquece que sou eu quem chora de dor, sou eu que tenho que arrumar a bagunça depois, sou eu quem pega o preço caro de não ter domínio sobre meu próprio membro chamado coração - esse mesmo que voa sem saber pra onde. O que quer abraça o mundo sabendo que não pode nem ao menos abraçar a si mesmo. E tenho tanto medo do escuro, medo quando falta luz. Tenho medo quando a luz me falta.
Mazes
Depois ele cantou pra mim: Suíte - Romulo Fróes

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