09 abril 2009

Eu não tinha muito o que falar
Menos que não fosse por amor ou ódio eu resolvi atravessar mais uma vez aquela porta. Eu quis voltar porque precisava entender o que aquelas palavras diziam. Falta de um dicionário [pai dos burros?] Não, auto-critica mesmo. Fiquei horas com aquelas palavras sobrevoando a cabeça tentando encontra um jeito ou até mesmo encontrar argumentos pra discordar daquelas palavras ásperas.
Acredito ser esplendoroso os dias frios. O cair da chuva tem algo de mágico e misterioso que desde minha infância me intriga. Lembro das manhãs de chuva na EAF, mais precisamente na agroindústria onde ficávamos ao lado do banheiro em frente aquele mundo de verde. Diego com suas histórias, Emerson estudando, Téo falando coisas tipo “Chico Science, nação zumbi e mangue beat” Jefferson e seu grave possante, Augusto procurando alguma besteira pra se ocupar [risos], o meu violão e o de Thiago-Tico competindo e a irmã Natália rindo de tudo que a gente fazia. Era felicidade e o que era muito acabou. A natureza a um passo de nossos pés e mãos. Às vezes eu ficava perdido em pensamentos admirando cada pingo de chuva, como se cada pingo que caísse trouxesse consigo os mistérios do céu. E ficava me perguntando quantos quilômetros aquele pingo tinha percorrido até encontrar o chão de cimento. "Uma chuva nunca é resultado de um céu carregado de nuvens escuras, é acontecimento excepcional; assim como se chovesse ouro líquido, a chuva brilha, e se você está dentro dessa chuva (digo “dentro” porque “debaixo”é muito pouco para expressar o envolvimento), ela é morna, revigorante, gostosa. Você vive dentro dessa chuva amarela como os girassóis de Van Gogh. e nem no mais rigoroso inverno você está triste. Você celebra."
-Eu não te entendo!” [Ela falou chorando]... Eu não tinha muito o que falar... ela estava certa e nenhuma palavra seria capaz de justificar minhas faltas. Nada iria faze-la esquecer as vezes em que meu olhar de pedra não minava uma lágrima. Às vezes em que eu saia correndo dizendo que precisava ficar sozinho. Dói admitir, mas ela me conhecia bem, embora mesmo assim não conseguisse entender o labirinto que eu era.
-Às vezes nem eu me entendo direito! E juro que não faço por mal, mas às vezes até eu queria me entender. Falei olhando para as paredes que foram pintadas cuidadosamente por algum pintor-pedreiro.
-Acho pérola uma cor morta.[Ela resmungava]! Cor pérola me lembra hospital.
-Eu pensei que pra você eu te amar já fosse o suficiente. Agora percebo que amor por si só não é muita coisa. Evidente minha deficiência. É preciso se jogar e não dizer não. Mas isso eu não sabia fazer. Não podia oferecer o que ela mais precisava. Também não posso me culpar por não ignorar minha essência. -Eu sou profundidade e não superfície. [Uma vez eu disse]. -Não importa o que você seja, eu sempre estou à margem. Sempre na ponta, quase de fora do seu mundo. Qualquer coisa é melhor do que está com você e ver você se afastando de mim. Viver nessa luta é viver pela metade. [ela soluçava]. Fui com a sensação de que não deveria ter voltado. Escutar o que todos falam. Que ninguém entendia meu universo complexo eu já sabia. O que eu não sabia que há muito tempo a garota por quem eu era completamente apaixonado não me sentia. Não sabia que tínhamos nos tornado tão estranho um para o outro a ponto de estarmos sozinhos mesmo estando sempre juntos. Em um cofre entreaberto nenhuma fortuna está segura. Do mesmo jeito que não faz sentido querer encher de água um balde furado. Não posso acreditar que a vida seja tão diferente dos romances. Ela me abraças, me entrega uns cds que eu havia lhe emprestado, sorrir um sorriso triste e delicadamente abre a porta e sutilmente me convida a sair da sua vida. Não vi nenhuma alma na rua, a noite estava linda, mas parece que tudo está pelo avesso. Chego a conclusão que sou muito bobo, muito burro e muito tudo que existe de ruim. Agora tudo mudou. Inesperadamente surge um outdoor enorme que fica ao lado da antiga estação ferroviária onde está escrito: “AUTRE AVENIR” Josimar Souza- Mazes, o pensador

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